Comentárfio 228
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022/02/08, sobre a publicação rimar pobre, Maria Soares
Passo a vida distraído.
Passo a vida a olhar o infinito,
A ver impossíveis no horizonte,
À procura de sonhos onde não podem medrar,
A tentar o possível em terrenos improváveis.
Passo a vida distraído.
Pouso os olhos no chão.
Fecho os ouvidos aos silêncios
Que gritam do mundo em volta.
Calco as pedras do caminho perdido.
Passo a vida distraído.
Vou para longe dentro de mim.
Passo sem andar.
Lanço os olhos ao infinito,
Sem ver.
Abro os ouvidos
E nada ouço.
Rasgo a pele nos caminhos
E nem sinto o sangue a escorrer.
Passava pela vida distraído.
Um dia cansado atirei-me ao chão.
Para ali fiquei ainda mais esquecido
Do que andara até aí.
De olhos piscos
Já quase fechados de tanto não ver
Uma imagem mos abriu,
E todos os sentidos com eles.
Estava ali o infinito,
Os horizontes impossíveis,
Os sonhos por medrar,
Os gritos dos silêncios,
A pele rasgada pelos caminhos,
O sangue nas pedras agrestes.
Sentado no chão,
Ou talvez suspenso das nuvens,
Uma miragem,
Ou um ser real,
Escreve com lápis,
Ou será com as palavras que sussurra,
Numa folha longa de papel,
Ou num pedaço da paisagem
As angústias do ser,
Ou talvez as alegrias do nada,
Que gratuitamente
Distribui por presentes,
Por ausentes,
Por vindouros,
A sua riqueza
“O pensamento
Que não há machado que corte,
Quando é livre como o vento”,
Como livre é aquele ser ali
Despojado de tudo.
Zé Onofre