Comentário 120
120
Todo o Homem
Que já foi Menino
- Há “homens que nunca foram meninos”-
Se lembra
Desse tempo de encantamento.
Desse tempo
Em que acreditava
Que os seus olhos
Clareavam o dia,
Que acreditava
Que a correr
Arrastava o sol pelo azul,
Qual estrela de papel.
Que o movimento das suas mãos
Agitavam as árvores ao vento.
Que os segredos
Que as folhas confidenciavam às aves
Os segredava da sua boca inocente.
Que estas, diligentes,
Faziam chegar aos poetas.
Que os versos
Eram os sonhos que ele murmurava
Enquanto brincava
No verde dos campos,
Sentado num penedo
A mirar o rio.
Acreditava
Que o rio e o mar,
Aquela rocha e o monte além,
Existiam pela sua vontade.
Sentia-se Senhor da Terra e do Céu
Que bastava dizer a palavra mágica
Para voar para além do horizonte,
Muito mais além das estrelas,
Para além do que a imaginação alcança.
Feliz o Homem,
Que,
Por breves momentos mágicos,
Volta a ser aquele inocente menino.
Zé Onofre