Comentário 16
16
2021/02/11
"Se o mundo pesasse todo para o mesmo lado tombava. “ (De D. Alzira que no próximo dia 11 de Abril faria 110 anos)
Quem me fez ser social
Fez um trabalho bem feito,
Um cidadão exemplar
Que não interrompe os outros,
Que só fala quando solicitado,
E observa rigidamente o saber dos superiores.
Fizeram um cidadão exemplar
Que ficou socialmente mudo, a perfeição.
Foi assim que as pobres folhas em branco de cadernos
Perdidas pelas mesas lá de casa,
Ou até desprevenidos guardanapos
Em mesas de café,
São furiosamente agredidas pelo bico palavroso da caneta.
As desgraçadas encheram-se de linhas rabiscadas,
Mal alinhavadas,
De palavras rudes, banais, despejadas à sorte sobre elas.
Quando a voz queria derrubar o silêncio que me tolhia,
A palavra escrita irrompeu pelos meus dedos,
Substituindo, mal, o que me urgia dizer.
E é nesses dias desesperadamente mudos
Que surge a vontade de despejar palavras,
Varrer o pensamento.
E apenas nessas alturas de tormenta e revolta
Mancho a pureza das folhas em branco.
Ninguém me peça
Escreve sobre...
E as folhas brancas ali ficam eternamente à espera.
Porém, basta uma pequena provocação,
Para a lapiseira arrastar os dedos para uma cavalgada,
Pelas campinas puras e brancas,
E deixá-las sulcadas de rastos de palavras,
Ridiculamente sem sentido, quase sempre,
Ou desenhadas com palavras banais
Que nada acrescentam ao que já foi dito.
Zé Onofre