Comentário 243
243
022/03/15
Sobre uma fotografia de Luís Cutileiro, em photografias. blogs.sapo.pt, no dia 022/03/15
Ao longe,
Um pano preto,
Parado na paisagem
Ensombra o caminhante.
Ao longe,
Um misterioso pano preto,
Estático na paisagem,
Tem dois rasgões
Por onde se escoam dois raios
Que ainda mais
Ensombra o caminhante.
Caminhante
E pano negro aproximam-se
Mutuamente assombrados.
Aqueles raios de luz,
Dois olhos fugidios.
O pano negro,
Embrulha em escuridão misteriosa
Um corpo
Cujas formas só podem ser imaginadas.
Uma paixão súbita
Explode mais forte
Do que o corpo se mostrasse
À luz dos olhos do caminhante.
Aqueles olhos, raios enigmáticos,
Apenas alcançam em frente,
Presos dentro daqueles rasgões,
Veem para lá do corpo
As emoções do desconhecido caminhante.
Cruzando-se sem trocarem palavra
Conhecem-se profundamente
Pelo silêncio dos olhares.
Ao cruzarem-se,
No silêncio do caminho,
As sombras viraram cinzas,
Com as chamas do desejo
Que o mistério oculto
Ateia ainda mais.
Zé Onofred