Comentário166
166
2021/08/10
No nada não estou só.
Pela cabeça
Passam filmes
Mil vezes vistos,
Tantas vezes revisitados.
Em cada cena
Há sempre algo de novo
Que não estava lá
Das outras vezes.
Aquele aperto
À beira do tasco
Onde os corpos quase se fundem
Entre risinhos,
Faces coradas,
Mãos inquietamente abandonadas,
Feitas esquecidas
Passeando pelos corpos dos outros.
Nunca vinte minutos
Demorou um tempo
Não imenso,
Mas uma eternidade
A passar.
A multidão espraia-se
Individualiza-se.
Aparecem os rostos.
A uns abraços,
Para outros, um simples aceno.
Os rostos femininos surgem.
Para algumas um olhar longo,
Para outras, um sinal cúmplice
De futuros encontros.
É festa na aldeia.
Não é Verão,
É Maio.
No improvisado campo de Futebol
Hoje é uma pista de carros,
Que ao som de música,
Fora de prazo há mil anos
Acompanha os risos,
Os choques,
A perícia dos melhores.
Ao lado está o café associativo,
Onde a cerveja corre,
O fumo turva os olhares.
Há jovens fingindo estar por estar,
Enquanto uma mão
Intencionalmente distraída,
Encaracola o cabelo.
Também finge
Não ver uns olhos verdes
Presa nos seus caracóis
E que à saída lhe faz um sinal.
E ele fazendo-se entediado
Segue-a.
No fim da tarde
O povo crente alinha-se na procissão,
E jovens, vestidos de verde,
Agradecidos à Santa
Por terem regressado vivos da Guerra,
Preparam-se para levar
O pesado andor coberto a folhas de ouro.
A tarde tende para a noite.
As pessoas encaminham-se
De volta ao lar.
O jovem dos caracóis,
Acompanha a dos olhos verdes
Até sua casa.
Sem querer,
A escrever sobre tudo e nada
Fiz uma viagem
Aos meus dezasseis anos.
Assim, sem mais nem menos.