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2021/08/16
Tenho alturas.
Umas vezes ando por baixo.
Outras, estou bem alto.
Quando estou em alta
Ouço os outros,
Conforto os outros,
Estendo a mão aos outros,
Visto-me
Com toda a paciência do mundo.
Em qualquer dos casos
Procuro
Não sei bem o quê.
Onde terei errado?
Que passos mal dados, terei dado?
Umas vezes,
Quando mais otimista,
Jogo tudo em cima dos outros.
Descarrego em todas as gerações
Anteriores a mim.
Da amiba ao homo erectus,
Do Neandertal ao Sapiens,
Dos avós aos pais.
Eu, ser otimista,
Ser perfeito,
Isento de imperfeições,
Nunca poderia ter errado.
Outras vezes,
Pessimista-realista,
Sou lixo.
Um ser sem tino
Que somente sabe errar,
Excessivamente erra.
Veneno para os outros,
Os mais próximos
E num efeito borboleta.
Ou fazendo tocar uma sineta,
Mato o Mandarim.
Quem me acudirá?
Se escondo a mão,
Se me refugio,
Bicho-de-conta,
No nicho mais escuso do mundo?
Quando estou no fundo,
Nem otimista, nem pessimista,
Sinto-me ausente.
Não melhoro o bem-estar dos outros,
Nem egoisticamente o meu.
Que raio, ando aqui a fazer?
Quem sou?
Um cadáver
Que se esqueceram de enterrar.
Zé Onofre