Comentário 181
181
2021/08/29
[ Inspirado em Folha Dourada de Maria Neves]
Por trilhos,
Talhados por pés ancestrais,
Caminho por entre velhos arvoredos
Em direção ao Tâmega.
Os pés vão lentos
Já não tenho pressa de chegar.
Já não tenho nos olhos
O brilho do Verão a começar.
Hoje, ao sabor do vento,
Folhas doiradas sobem e descem
Almas certamente perdidas
Das aves que se abalaram.
Poisam suavemente à minha frente
Mensageiras de novas, já esperadas,
Que o sol debruçado nos montes
Anuncia - O verão está a acabar.
Avanço com pernas lentas
Pressentindo o facto consumado.
O Verão nos seus derradeiros momentos
Traz já o Outono associado.
Chego àquela parte do rio,
Lagoa que fora verde, agora mil colorida,
Pelo reflexo das folhas outonais,
Pelos raios solares a rasar.
Entro de manso nas águas quedas
Nado até ao açude onde me sento.
Oiço o canto melancólico das águas
Escorrendo pelas pedras em fios derradeiros.
Regresso do açude numas últimas braçadas.
Sei que estas são as últimas
Enquanto os meus olhos melancólicos
Se alagam em água doce e salgada.
Zé Onofre