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Comentários

10
Nov21

Comentário 149

Zé Onofre

 

                 149

 2021/07/16

Nos meus dezasseis anos

O tempo não tinha medida.

 

Era longo o Inverno

Com os seus dias  

Das cortinas cinzentas líquidas  

Que serenas,

Ou violentas,

Diluíam os horizontes.

 

Era longa a Primavera.

Nos campos ainda alagados,

As cores afogavam a água,

Com o verde forte da erva,

Com os dourados malmequeres.

Com o vermelho vivo ao pálido das papoilas,

Com o roxo das violetas selvagens.

Com os rebentos verde-envergonhado das árvores,

Com o azul-nascente do céu,

A chamar o Verão.

 

Sem tempo era o Verão

De dias imensos

Que engoliam as noites,

Deixavam um pouco para,

Para contarmos a infinidade de estrelas.

Das tardes quentes,

Em que desafiávamos as distâncias,

 Ignorávamos a dureza do regresso,

Voávamos a mergulhar no Tâmega,

Fio de água convencido que era enorme,

Preso nos açudes.

 

Era longo o Outono

Das vindimas

Dia após dia

Que avermelhavam as mãos.

Os pés, nas lagaradas, pisavam com mais alegria

Animadas por graçolas e cantares.

Das desfolhadas nocturnas

Que se estendiam pela madrugada,

Em danças e cantares

Na eira do Ribeiro.

Era o tempo do início da escola,

Sempre depois do Cinco de Outubro,

E terminava

Com uma alegria metafísica que pairava no ar.

 

Era um tempo de transição.

O tempo das rabanadas,

Dos presépios,

Da Missa do Galo,

Das Janeiras,

Que terminava nos Reis.

Era o tempo

Em que o tempo tinha          

Todo o tempo do mundo.

«Aqueles eram os dias, amigos,

Que pensávamos não ter fim,

Em que à mesa do canto do “café”,

Fazíamos projectos

Para mudar o mundo

Todos os dias.

Aqueles eram os dias …»  

(tradução libérrima da canção de Mary HopKins, 1968)

   Zé Onofre

04
Ago21

Comentário 48 e 49

Zé Onofre

48

2021/03/20

Também eu sou certamente dois, ou três.

O como me sonho dentro de mim.

O que me vejo no espelho,

Que reflete um outro que desconheço. 

E um terceiro, talvez o verdadeiro,

O que os outros vêm.

Fico sempre a suspirar

E a monologar.

Feliz foi Pessoa

Que era quem queria ser,

E quando queria ser,

E com uma clareza tal

Que nos convence

Que é eles todos.

  49

2021/03/21

Poema há-de ser.

Com todas as cores de todos os poetas.

Com todas as cores de todos os falares.

Com todas as cores de todas as almas.

Com todas as cores de todas as alegrias.

Com todas as cores de todos os chorares.

E se o poema se recusar vir?

Se o poema se recusar

Partilhar?

Se o poema se recusar

Aprisionar?

Vinde todos os ventos,

Vinde todas as aragens,

Vinde todas as tempestades,

Trazei até esta praia

Todos os poetas e todos os loucos.

Com os seus corpos nus,

Com as suas almas puras,

Deles faremos o poema

O mais belo que se poderá cantar.

  Zé Onofre

 

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