Comentário 229
229
022/02//08, sobre a publicação rimar pobre, Maria Soares
Passo a vida distraído.
Passo a vida a olhar o infinito,
A ver impossíveis no horizonte,
À procura de sonhos onde não podem medrar,
A tentar o possível em terrenos improváveis.
Passo a vida distraído.
Pouso os olhos no chão.
Fecho os ouvidos aos silêncios
Que gritam do mundo em volta.
Calco as pedras do caminho perdido.
Passo a vida distraído.
Vou para longe dentro de mim.
Passo sem andar.
Lanço os olhos ao infinito,
Sem ver.
Abro os ouvidos
E nada ouço.
Rasgo a pele nos caminhos
E nem sinto o sangue a escorrer.
Passava pela vida distraído.
Um dia, cansado, atirei-me ao chão.
Para ali fiquei ainda mais esquecido
Do que andara até aí.
Por entre os olhos piscos
Já quase fechados de tanto não ver
Uma voz chegada de não sei onde,
Envolveu-me num véu tão leve e suave
Que me senti transportado
Para longes nunca sonhados.
Zé Onofre