Comentário 172
172
2021/08/17
Quando o sol
Lentamente inicia
A transição do dia
Para a noite
Há um mistério
Que me enevoa os olhos,
Choro por dentro.
Vejo,
Para lá das vidraças,
Os campos verdes
Vestem-se de luto.
Algumas árvores
Abrigam a passarada
Com milhares de lençóis,
Enquanto,
Um melro tardio,
Pia ansiosamente
À procura do seu silvado.
Um cão tardio
Perdido em nenhures
Desconsolado
Ladra à lua.
As vidraças
Tornam-se espelhos,
Só vejo os meus olhos tristes,
Cansados,
Quase húmidos.
Abro a janela
De longe
Chegam gargalhadas
Cada vez mais longínquas.
Uma estrela
Depois outras
E ainda outra
Abrem caminho
À noite.
A melancolia evola-se,
Dá lugar ao sonho
Sem limites.
Lá vou eu
Pousar solitário
Numa árvore nua
Ouvir o silêncio,
O crepitar das estrelas.
Adormeço
Lápis caído
Sobre o caderno esquecido
Agora a minha almofada.
Zé Onofre