Comentário 116
116
Os seres que somos,
Num só “eu”
Fazem-nos contraditórios
E incoerentes.
Que “eu” é este
Que tenta encadear
Com coerência e sentido
Todos os seus actos,
Todas as suas palavras –
Expressão do seu pensar?
Este “eu”,
Que ao mais pequena falsete,
Desdiz com o mesmo entusiasmo,
O que antes com a mesma veemência
Antes afirmara.
Concluo, então, que não somos
Rochas monolíticas imutáveis.
Apenas um leito
Formado de altos e baixos
De um rio convulso,
Mistura de muitas águas,
Onde cada uma
Modela,
Calhaus rolados,
Que mostram
Um pouco dos outros
De que somos formados.
Zé Onofre