Comentário 178
178
2021/08/26
Agosto,
Quando é que Agosto
Encurtou as férias,
Interrogo-me.
Desde que me lembro
As férias grandes,
Não tinham paredes
Tinham tempo para além do tempo.
Agosto,
Ficava no meio.
Havia um antes.
Havia um depois.
Começava no Sábado
Antes do primeiro Domingo de Agosto
Com fogueiras de pinhas,
Em honra da Srª da Graça,
À volta das quais brincávamos,
Cantávamos,
Até que a última pinha,
Da derradeira fogueira
Se desfazia em cinza.
Depois era o chiar de carros de bois,
Raparigas com cestos à cabeça,
Rapazes pendurados em escadas,
Cada qual tentando chegar às uvas,
Falsamente perdidas no céu,
Quando caminhavam sobre os cestos.
Havia outro depois
Depois deste.
Rapazes e raparigas,
Jovens e menos jovens,
Em roda liam papéis à vez.
Liam, reliam e voltavam a ler,
Os papéis desapareciam.
Começava, então, trocas de palavras
Tão fora do normal.
Pareciam um bando de dementes
A brincar às conversas.
A uma certa altura,
Numa adega, ou num salão,
Erguiam uma estrutura de madeira,
Suporte a paredes de papel pintado,
Com portas que abriam e fechavam,
E janelas de faz de conta.
No último Sábado e Domingo de Setembro
As portas da adega,
Ou do Salão abriam-se.
Muitas pessoas,
Também elas, certamente, de razão perdida,
Para verem entradas e saídas
Caminhares longos fingidos,
Zangas e promessas de beijos
Tudo ensaiado até ao último pormenor,
Que o génio daqueles magos
Tornavam reais.
Três vezes vistas
No último Fim-de-semana de Setembro,
E sempre como se nunca tivesse acontecido.
Quando no Domingo à noite,
O pano se fechava pela última vez
Também encerrava as férias.
O sete de Outubro não tardava.
Zé Onofre