131
O mapa de Portugal
Ficava pendurado na parede
Entre duas janelas.
Eram duas janelas
Que escorregavam pela parede
E paravam a um metro do soalho.
Era aquele o local escolhido
Para as aulas de Geografia.
Mais interessantes, que o velho mapa
Que já servira gerações de alunos,
Eram as janelas abertas para a vida.
Os olhares mergulhavam nas vidraças,
De onde uma ríspida cana
manejada pelo professor
Nos pescava.
E a lição continuava.
Com a canção das serras,
Estrela, Larouco, Gerês, Marão...
A cantiga dos rios,
Minho, Minho, Lima, Cávado, Ave, Douro, ...
Um outro mais desafinado,
Inseguro cantava-os a custo.
O coro das linhas de ferro,
Suas estações e apeadeiros
E respectivos ramais.
Entretanto,
Pelas vidraças sedutoras
Acompanhavamos as pessoas no largo,
O carro do Neca fazia mais um frete,
Tinha chegado um comboio.
Subíamos ao mais alto dos montes,
Pelos degraus que eram os outros
Que até ele levava.
O mais alto, no Inverno,
Cobria-se em manto branco lindo..
Tecido em foleca
- Ai de nós que não disséssemos neve -
A cana zangada
Traz-nos à realidade geográfica da lição.
- Sr. Joaquim, tão interessado
No que se passa lá fora,
Aponte no mapa a serra do Marão.
De mão trémula devido ao medo,
Que não à ignorância,
Leva o indicador, de olhos fechados,
À representação do Marão
Desenhada no mapa.
O que o Joaquim não sabia,
Nem os outros seus colegas,
Era que aquele monte mais alto,
Com sua cobertura branca no Inverno,
Era a serra do Marão.
Se as janelas falassem
Que coisas tão interessantes
não nos teriam ensinado?
Zé Onofre