Comentário 176
176
2021/08/23
Há noites
Indefinidas
Ou são o prolongar do dia,
Ou o dia seguinte antecipado.
Nessas noites
Nem a leitura me serena.
Fixo o teto às escuras.
Na tela dos meus olhos
Projeto imagens
De várias cenas
Gravadas em épocas diferentes.
Intercalo-as
Recriando uma realidade
Vertiginosamente vivida.
Com avanços e recuos
De um ontem ido
A um futuro idealizado.
Nesta montagem
Onde recrio o filme da minha vida,
Há olhares inquietos,
Memórias fantasmas,
Beijos absurdos.
Uma inteligência fantasma,
Caída não sei de que paraíso,
Tenta enquadrar todas as cenas,
Mesmo que contraditórias,
Numa história coerente.
Há uma música
Que ilustra as cenas
Que se perde
Numa memória de silêncio.
Cabelos bailam com o vento.
Desesperadamente procuram um corpo
Para descansar.
Ao primeiro raio
De um novo alvorecer
Tudo se esboroa.
Adormeço.
Zé Onofre