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11
Set21

Comentário 92

Zé Onofre

                        92

Os que gostam do Natal,

Gostam-no por razões diferentes.

Uns pela prendas que recebem,

Outros pela crença religiosa,

Alguns pela reunião da família.

Para mim o Natal

Começava no dia 24 de Dezembro

E terminava às primeiras horas

Do 1º de Janeiro.

Era a semana mais linda do ano.

 

O pai chegava mais cedo,

Jantávamos mais depressa,

Rezávamos o Terço bem despertos.

 

A seguir vinha o melhor.

O pai tirava do bolso um papel dobrado,

Abria-o,

Lia, para os ouvidos curiosos da família,

As Janeiras do ano.

Cantava-as com música dele,

Ou por ele adaptada,

 

Começavam os ensaios

Com o olhar crítico da família

Posto em mim gritando-me,

Cala-te.

 

No dia 31, no fim do jantar,

Partia o grupo dos Janeireiros

A dar as Boas-Festas à casa do tio.

Chegados à porta,

Rompia o coro,

Sem a minha voz,

Para não estragar a Festa.

 

Abria-se a porta,

Os cumprimentos costumados.

A seguir era comer,

Contar natais passados,

Janeiras idas.

Os jovens dançavam.

As crianças sorridentes,

Abriam os olhos de espanto,

E diziam umas para as outras

-Já tantas da manhã e nós a pé.

 

Chegava a hora da partida.

Uns não queriam ir,

Outros não queriam partir.

E no vai e vem até à porta

Passava-se quase uma hora.

Partíamos a custo,

Mas o pai já devia ressonar,

Na sua cama junto da mãe que ficara.

 

Começava a caminhada,

Perna bamboleante

Pé à frente, pé atrás,

Longa de cinco quilómetros.

 

Num ano,

Já com a casa à vista,

Vimos surgir de uma curva,

Um vulto tropeçando nas pernas.

- É o sr. João da Calçada -

Nosso vizinho, falecido havia pouco.

 

As pernas ganharam um último alento.

Sobem as escadas duas a duas,

A porta é quase arrombada

E mais rapidamente trancada.

 

Apenas eu, o mais novo e mais lento,

Fiquei fora da porta

A chorar baba e ranho de todo o tamanho.

Afinal o morto continuava bem enterrado.

Era o sogro do dono do Tasco da aldeia

Que regressava a casa

Com uma “vesana” das antigas.

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