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Depois de um esforço de memória,
Faço eu de conta,
Quando sei a resposta de pronto.
Foi no final deverão de 1959,
Numa adega,
Na adega da Casa do Ribeiro.
Os meus irmãos mais velhos fizeram tudo.
Autores, encenadores, actores, carpinteiros,
Cenógrafos, contra regras, bilheteiros,
Publicistas, tudo…
Naquele fim de verão,
Como em todas as "récitas" de aldeia,
Levavam à cena um drama,
Noivado do Sepulcro,
Baseado num poema de Soares de Passos,
E uma comédia
Três estudantes em férias.
Estaria tudo resolvido.
Porém a récita teria que se alongar,
Teria que ocupar pelo menos três horas.
Então os senhores directores
Tiveram uma ideia genial.
Os dois mais novos vão entrar em cena.
Tu recitarás "Os ninhos" e a "Caridade".
E eu? Tu? Logo veremos.
Então, não sei como, puseram-me,
A mim, que nunca tinha visto o mar,
A recitar "Eu já vi o mar".
Foi um Sucesso.
Disse uma vez, e o público, bis, bis...
Uma segunda vez, e o público, bis, bis...
Uma terceira vez; e o público, bis, bis...
Muito senhor da minha pouca idade
Fitei as pessoas bem fitadas nos olhos,
E declamei alto e bom som
"O bis, à merda".
Foi um sucesso estrondoso,
De tal maneira que uma criança como eu,
Disse lá do seu lugar
- Esta foi a melhor comédia.
Em cena foi um esplendor.
À saída de cena estava um pé ligeiro,
Que acertou em cheio no traseiro,
E me vez voar para o Camarim.
Zé Onofre